segunda-feira, 21 de junho de 2010

Viver de Amor-Chico Buarque de Hollanda

Aprendi que o amor não tem laços com a desconfiança. Amor de pai, de mãe, de irmão, amor de sangue. Outros amores até podem ser, mas outros amores que são apenas afluentes do amor que nos é oferecido incondicionalmente assim que gritamos a primeira vez para o mundo. Ou ainda mais profundo e doloroso: amor que se tornará ainda maior, ainda mais obrigatório de se levar, se a lei da vida raptar alguns de nós na medida que o tempo se estende. Na vida e na morte o amor de sangue não se dispersa, não se confunde com outro sentimento, não ameniza, não diminui com as falhas e faltas de quem amamos. É o único amor que não exige absolutamente nada para acontecer: nós nascemos e já está ali, junto, forte, encantado.
Quando ele me viu pulou do caminhão ainda com o motor ligado com o rosto como se fosse sorriso enorme. Esse foi nosso primeiro encontro!
Liguei para você. Parece que foi em um piscar de olhos que vi sua moto vermelha quase que flutuando sobre a rua até o meu encontro. Agora eu podia chorar as dores da decepção, Não tinha mais medo, voce trouxe seu amor para me embalar, me deu coragem, forças para tentar outra vez. Logo voltamos para casa, sabia que nada mais me tiraria dos cuidadosos braços que você me estendia. Passei o resto da tarde debaixo dos lençois e inconformada por não ter passado no teste da balisa. Nunca soube nada do amor, dos seus poderes, da sua grandiosidade, da sua capacidade de perdoar. Talvez eu nunca venha a descobrir. A única coisa que sei, é que voce com seu grande amor sempre estava lá me acudindo, era só chamar. Não tenho medo de morrer, mas sim de ter partido sem reconhecer esse homem que amou demais.

Nenhum comentário: