quarta-feira, 23 de junho de 2010


Lembro da vez que pressenti que nunca mais iria voltar. Eu estava em casa, era quase sete da noite e junho terminava. Lembro do dia e do ano, mas embora fosse uma segunda-feira quero lhe contar que foi em um domingo. Os domingos são os dias mais decisivos, mais solitários e mais delicados para se escrever. Então prefiro acreditar que foi embora em um domingo, fica mais bonito assim.
Eu tomava uma xícara de café debruçada na sacada , vendo as luzes da cidade se acenderem uma atrás das outras, prédio por prédio, casa por casa, carro por carro. Ele estava no sofá mudando os canais da tevê como quem não se prende a nada. Eu lhe falava das luzes que estavam acendendo, de como era bonito e melancólico aquele laranja que vai se dispersando com o fim do dia, dando vagarosamente espaço à noite. Até que tudo foi ficando tão escuro e o café tão frio, e não reconheci mais aquele homem na sala, nem aquela cidade e caminhei perdida até um espelho: eu também já não me reconhecia.

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